"Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja ao infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra mais de cinco mil milhas em diante novidade, porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas."
Livro do Desassossego
Reflexões sobre a Arte
Bernardo Soares
3 comentários:
Olá 😊 é verdade.... Momentos há em que reduzir a existência ao que a frase inicial transmite, tornaria tudo mais simples.... Beijinhos, Susana
♥
Sim, é bom para reflectir. Diria que o melhor é digerirmos e aplicarmos (ou tentarmos aplicar) o "nem tanto ao mar, nem tanto à terra" na nossa vida. Tudo é melhor equilibrado! :)
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