sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um dia... gostava de regressar.


Os cheiros a terra molhada, fruta colhida directamente das árvores, flores silvestres, folhas de eucalipto ou carumas espalhadas pelo chão, são dos meus preferidos. Cresci encostada ao Pinhal de Leiria, numa zona em que havia pomares e hortas. A casa dos meus pais é modesta mas sempre teve jardim e quintal. Havia também uma avó que vivia para cultivar a terra e fazê-la produzir coisas boas. Chegámos a ter uma pequena vinha e havia um lagar em casa, as vindimas eram uma alegria. Havia porcos, galinhas e coelhos. Tínhamos a nossa própria lenha para as lareiras e para o forno, e um pomar perto de casa que produzia maçãs e pêras para todo ano e ainda sobravam algumas para vender. Adorava ir com a minha avó fazer as regas, eram uma emoção. O motor bombeava a água do poço para uns "carreirinhos" cavados na terra que conduziam a água ao longo do terreno e a iam acumulando em torno das árvores, porque a minha avó erguia murinhos de terra à volta de todas elas com a ajuda da enxada. Era uma espécie de rega por sulcos. Aprendi a sachar e tudo, aposto que o fazia mal, mas aprendi. :) Morei lá até aos 18 anos e só depois descobri a vida nas cidades. Regressar nunca mais foi o mesmo. Em relativamente poucos anos, essa geração dos avós foi substituída bem como todas estas actividades. Bem, quase todas, que os meus pais apesar de trabalharem fora ainda têm alguns patos, galinhas e colmeias de abelhas. Vão tendo ovos e mel caseiro. Há também árvores de fruto que, apesar de não serem podadas nem tratadas, continuam a produzir ameixas, laranjas amargas, abrunhos, marmelos, limões, nêsperas... só que raramente alguém os colhe. E isto não é discurso saudosista, é o quanto me custa ver esbajados tantos recursos e a possibilidade de uma vida mais saudável e com menos desperdício.

Porque a natureza exuberante e maravilhosa não existe só longe de nós. Não precisamos de ir até às zonas rurais de Inglaterra (se bem que muitas vezes apeteça) para vermos as quatro estações estampadas nos campos, quando temos um clima tão bom e terrenos tão férteis aqui. Precisamos é de prestar atenção e valorizar mais o que temos. Aliás, esta semana apercebi-me das marcas do Outono mesmo aqui ao lado de casa (no centro de Lisboa). Até trouxe um bocadinho pequenino de Outono para casa. É como digo muitas vezes (e no fundo, é para eu própria não me esquecer): basta abrirmos bem os olhos.




10 comentários:

R. disse...

Ai, Raquel, gostei tanto deste texto :) Muito!
Beijinho e saudades de conversar :)

Raquel Úria disse...

Temos que combinar um dia para esplanar (verbo que inventei e significa passar a tarde a pastelar em esplanadas). Agora devia abrir um novo parêntesis para definir "pastelar", mas depois isto nunca mais acabava. :)

R. disse...

Pastelar eu também uso. Esplanar, na língua de pequena R. é esplanadar :) Como vês, entendo-te perfeitamente. E sim, temos de combinar. Gosto de ti, pronto. Deu-me para isso :)

Anónimo disse...

A minha filha têm veia de agricultora...o que me deixa profundamete feliz....

erva doce

ao sabor da cor disse...

erva doce???será quem eu estou a pensar?? se sim um abracinho apertado.
quanto à tua casa só posso dizer:magia. Era mesmo mágica.
Em relação à tua avó: grande companheira. Conversei tanto com ela. Ela na eira e eu sentada nas escadas a convencê-la com as minhas conversas.
Tinha uma paciência para me aturar e ouvir...

Anónimo disse...

sabor da cor:

naõ sou que tu estar a pensar...nunca tive avós...sou filha de pais velhos...

Mas beijinhos para ti na mesma...

erva doce

Raquel Úria disse...

Erva doce, a parte da avó era para mim! ;)

Mas acho que vocês não se conhecem mesmo.

sabor da cor: parece-me que as tuas memórias da minha casa estão douradas pelo tempo e superam as minhas! Eu adorava aquela vossa varanda para a frente. Tinha mesa e cadeiras em ferro e vidro, não era? Como nós não tínhamos varandas, achava aquela mesmo bonita, lembro-me que às vezes tinha flores...

ao sabor da cor disse...

Eu hoje não estou mesmo a funcionar e por isso sonho com coisas:
1º Raquel, vi o teu post sobre custarda e na minha cabeça apareceu: Lemon curd. Por isso tudo o que te escrevi estava a referir-me ao curd. Sorry. Custrda nunca provei. :)
2º Erva doce, quando falaste em filha achei que era a Raquel e fiz contas mal feitas.
Desculpa e quem sabe um dia nos conheceremos :)

Penso que associei palavras a desejos. Espero que isto passe rápido, caso contrário pode ser perigosos, ahahha
Bom fim de semana às duas.

Raquel Úria disse...

Eu não quero que isso te passe rápido, espero é que evolua de "associar palavras a desejos" para a fase em que os teus desejos se realizam. ;)

Bom fim-de-semana!

Trabalho a 4 mãos disse...

Adoro os teus textos, este então....
beijo Sandra

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...